terça-feira, setembro 07, 2010

Desabafo

Ela não sabia.

Ele não sabia.

Ninguém sabia.

A infelicidade é assim, tão simples, tão rápida a instalar-se que ninguém previa que pudesse acontecer.

Teria sido tão fácil de evitar se algum deles soubesse... E ela sofre, em silêncio, um tormento aterrador da constatação dos próximos tempos. Ela sofre, mais ninguém, sem ninguém, sem nada. Nada. Nada a preenche, apenas um horário socialmente estipulado que não precisa de lhe dizer o que tem um dia para ser feito.

Ela sabe agora, e também sabe que o soube tarde demais.

quinta-feira, junho 24, 2010

Queda livre

Gostava de comprar um pára-quedas, para nos amparar nesta descida vertiginosa que mais parece não ter fim. Gostava de comprar um balão de ar quente, assim poderíamos descer mas voltar a subir, juntos. Gostava de comprar um kit de alpinismo, poderíamos escalar montanhas juntos e se um de nós escorregasse o outro seria a segurança.

Gostava de não ter medos das alturas, gostava de não ter medo de cair.

Gostava que não precisássemos de gastar dinheiro nas merdas que escrevi lá em cima.

Gostava de ti. E continuo a gostar.

segunda-feira, julho 13, 2009

Apelo

Que acabem os e-mails bonitos com a música da Celine Dion em pan-pipe.
Que eliminem para todo o sempre as apresentações de diapositivos com imagens chocantes e frasesinhas estúpidas a lembrar as pessoas de como devem agir perante a sociedade, com mensagens do Dalai Lama e rezas para não-sei-quê, com registos fotográficos acompanhados por musiquinha lamechas e respectiva letra, e que terminam dizendo que temos que enviar para outros tantos sob pena de termos não-sei-quantos anos de azar.
E que parem por favor com os e-mails com aquela frase fantástica "vive este dia como se fosse o último". Mon dieu... Se o dia fosse o último eu não estaria aqui certamente, nem tu aí a ler isto. Nem ninguém estaria a fazer o que normalmente faz. E no final das consequências todas pensadas, que não me apetece escrever porque são muitas, percebi que se assim fosse (se a frase fantástica surtisse efeito) o mundo acabaria.

quinta-feira, junho 04, 2009

Fim de tarde feliz

O sol já corre para a outra metade do mundo e eu, aqui da janela, embalo-me em pensamentos enquanto o vejo escapar-se.

Imagino o meu futuro e vejo-o feliz. Colorido e cheio de vida. Saudável e resistente a qualquer tempestade, qual terramoto destruidor de sonhos. Vejo-te nele, no meu futuro. Somos felizes. Compreendemo-nos mutuamente e repeitamo-nos. Ajudamo-nos um ao outro e tudo é transparente como os vidros das nossas janelas que, quando baços, limpamos com afinco para que a luz do sol entre sem impedimentos nesta nossa casa.
É uma casa bonita. Reflecte o nosso eu, o teu e o meu em sintonia profunda. Nada foi escolhido ao acaso e tudo tem o seu lugar - aprendi-o contigo, a definir um sítio para cada coisa. As cores são calmas e inspiram ao sossego que procuramos quando finda mais um dia.

O cheiro da cozinha atrai a minha atenção e aproximo-me. Ali estás tu, meu amor, a preparar um dos nossos pratos favoritos ao som do Tom. Balanço-me para ti e rodopiamos abraçados numa imensidão de bem-estar e serenidade que faria qualquer um por nós se apaixonar.
Jantamos e fazemos amor. Eis que o pleno da felicidade é atingido uma vez, e outra, e outra e no fim de contas não somos dois mas quatro a partilhar esta maravilha que é a nossa vida.

Debruço-me na janela e fico a ver-te passar. Constato que estou de verdade apaixonada por ti. E que esta é a vida que quero para nós.

E quero-te muito, até ao fim dos nossos dias.

sexta-feira, março 27, 2009

Finalmente

As tão merecidas férias. É já daqui a 3 horas.

sexta-feira, março 06, 2009

Lamento não conseguir cumprir o que disse

no dia 6 de Fevereiro, cujo título é de antemão preocupante.

Hoje vou até lá ver se o fumo é branco ou azul ou verde ou cinzento.

quinta-feira, março 05, 2009

Rigor e Solidez

Quando penso que poderia fazer doutra forma (entenda-se melhor, com maior precisão, bem estruturado, organizado) fico triste. Triste. Diria até muito triste. E esta tristeza tem uma causa: pouca compreensão.

Esgota-se-me a força e a vontade, e o que sobra talvez não chegue pra me fazer ter vontade de um dia tentar outra vez. Sinto-me desacreditada. E jamais poderei explicar-lhes o que é sentir isso porque ninguém iria entender. A compreensão foi há muito posta de parte.

Louvo a música, essa sim faz-se ouvir e quem a constrói tem o meu apoio. Estamos a progredir, juntos. E fico mais triste. O que vejo hoje poderia já ter começado há mais tempo e, por muito que me esforce, não consigo perceber como é que o ódio a uma pessoa levou as pessoas a penalizarem uma instituição. Se isso fosse correcto eu hoje não estaria lá a dar o meu suor, a sorrir quando me apetece chorar, a partilhar a alegria quando me preenche a tristeza, a trabalhar com aqueles que no passado me negaram o que hoje eu lhes dou.

O que vejo naquela sala, quando estamos todos e tudo corre bem, atira-me ao chão e faz-me sentir espezinhada. Apetece-me chorar, gritar, bradar-lhes que aquilo poderia ter sido o cenário de sempre no passado. No meu passado. Só que a pouca compreensão não os deixou colaborar, e agora, qual mudança de trajecto a 180º, lá estão, imaculados e luminosos como se essa atitude fosse deles desde sempre. Não quiseram compreender.

Entristece-me que exista um sentimento de glória por comparação a quem odeiam. Mais uma vez sinto-me desacreditada e espezinhada. Que lugar terei eu ali? Por vezes sinto-me usada por necessidade e não por gosto de me terem. E, perdoem-me o cansaço, fico triste.

Pergunto-me, que amor é este que não me deixa vingar esta tristeza que me assola. Não amasse eu tanto a caneca por onde, sôfrega, bebo e os meus dedos descansariam enfim, e tudo passaria a recordações. Para não mais ter de suportar a tortura de não poder ser espontaneamente quem sou. Se fosse, mais uma vez, a compreensão perder-se-ia. Como sempre.